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quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Virado à Paulista: Música para o estômago

No que dependesse de mim, aquela tarde já estava completamente reservada:

-Por favor, uma mesa pra um..
-Só um senhor?
-Isso, só um, de preferência naquele canto..

Ah, aquilo prometia demais e vou contar desde o começo. Sob uma São Paulo quarenta graus não foi tão fácil subir aquela rampona da Rua da Consolação; aliás, é incrível como, por morar no Rio, eu esteja completamente desacostumado com aquele tanto de rampa e ladeira de São Paulo. Mas enfim, bastava chegar até a r. Maceió cortando a Consolação. Caro leitor, é lógico que a esta altura eu já sabia que estava predestinado a ir no Restaurante Sujinho, não pense que tenha sido sem querer...



Ir ao sujinho nunca é “sem querer”, mesmo que alguém passe sem querer por lá.

Aliás, tenho que lembrar, o Restaurante Sujinho já pode ser considerado prata da casa... até porque ele inaugurou este blog, com um artigo especial sobre a sua classicíssima bisteca, um patrimônio paulistano muito mais disputado que o Monumento às Bandeiras, o Museu do Ipiranga e o Obelisco do Ibirapuera juntos.


Não é exagero, o Sujinho é um dos símbolos de uma São Paulo que produziu seu maior atrativo cultural em algo tão nobre: o prato. O Bar e Restaurante Sujinho remonta aos anos 60, quando ainda era despretensiosamente adiministrado pelos senhores “careca” e “cabeludo”. Nessa época, ainda bem cedinho, o Sujinho já tinha inventado a sua jóia da coroa, o tão aclamado “contra com osso” (um contra-filé inteiriço com osso, como constava no cardápio da década de 60), também conhecido, já naquela época, como “a melhor bisteca de São Paulo”, destacadíssima nessa foto aí à esquerda.


Mas chega de história e voltemos àquela tarde. Como já disse, fui bem sucinto ao abrir a porta: Por favor, mesa pra um. E Lá fui eu me dirigindo ao aconchegante cantinho com duas mesas juntas (aliás, sempre duas mesas, no mínimo!). Eu queria ter sentado nas mesinhas de fora, como dá pra ver aí na foto à direita, mas estava insuportavelmente quente, como já disse.

–Aceita alguma coisa para beber?
-hummm, deixa eu ver (abri o cardápio, cintilei o olho e tava lá, simples como uma única rosa enfeitando o jardim verde): Cerveja Serramalte, clássico 600ml, bemmm gelada.
-E para comer?
-O que que o senhor recomendaria?
-Olha, temos o prato do dia
-E o prato da segunda-feira de vocês é o que?
No que o garçom, sem titubear, respondeu meio estranhando meu desconhecimento.
-Ué, Virado à Paulista, como sempre, pra abrir a semana...

Respondo pra quem não conhece, o ‘virado à paulista’ é uma misturança de sabores que seguem uma certa lógica, seria mais ou menos a lógica de que não é exatamente um prato leve, convenhamos, afinal, à parte de algumas alterações criminosas que alguns restaurantes cometem contra esse prato, ele tem que seguir uma escala rígida: Uma bistequinha de porco com um ovo estrelado por cima (o que alguns chamam de “à cavalo”, não sei porque), couve salteada na manteiga, torresmo, lingüiça, arroz branco, tutu de feijão, farofa e, pra finalizar, banana a milanesa. Bem vamos por partes. O que dá uma completa diferença desse virado à paulista pra qualquer outro é que cada um desses singelos componentes do prato é feito à perfeição por lá. Parece até que tem um cozinheiro especialista pra cada coisa, a bistequinha proporcional ao resto do prato, só pegam o miolo da peça, com certeza e o toque à cavalo dá uma sustança rapá...!; a couve corretíssima, verdinha e crocante; o torresmo é um pecado, aquilo sim é a cor do pecado, não é aquele torresmo desonesto sem carne; a linguiça era muito diferente, tinha gosto de linguiça cuiabana, mas um pouco mais defumada, como a toscana, acho até que era linguiça feita e defumada por eles mesmos; a farofa era salgada na medida, pra não cortar o resto dos ingredientes que já é bem salgado, o tutu de feijão era bem temperado, com toque de limão e um variado de pimentas curadas, com aroma bem forte; Pra finalizar, como eu já disse, eles fazem uma das melhores bananas a milanesa que eu já experimentei, é sério mesmo, aquilo já compensaria o prato inteiro, o fato dos outros ingredientes estarem a altura da banana é um brinde a parte, um excelente brinde por sinal.

Cada coisa em seu lugar, justa feita, tudo combina como uma opereta, ou como música mesmo, clave de sol (e que sol!), cada nota respeita a próxima, o tom segue sem vacilos, nenhuma desafinada, ritmo estonteante. Música para o estômago.

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