Há muito tempo, desde que soube que Robert Parker, o crítico e advogado do diabo do mondovino afora, tinha conferido 90 pontos “best value” à safra 2006 deste vinho quis saber que mágica este produtor argentino havia feito. Convenhamos, por um vinho vendido a 27 reais no Brasil (e 36 pesos na Argentina!) e 90 pontos atribuídos pelo citado connoisseur, esse vinho é um coelho saindo da cartola.
Sobretudo, trata-se de um vinho da “nova escola” de produtores. Novo mundo, novos tempos, novas regras, ou seja, é um vinho de apreensão fácil, que não exige muito de seu degustador mas tampouco insultará sua inteligência. Resumindo, perfeito para pessoas como eu. Como já havia dito em outro post, a safra 2006 para malbec foi realmente excelente na Argentina. Este vinho é exemplo cabal e inconteste.
Os Vinhedos da Altos Las Hormigas:
Detalhe interessante, a uva colhida para o vinho provém de uma cooperativa de produtores, cujos vinhedos se estendem desde La Consulta, Vista Flores e Eugenio Bastos, no Vale de Uco até o distrito de Luján de Cuyo, área conhecida dos enófilos argentinos por agregar uma grande quantidade de cultivadores premiados.
A colheita de 2006 segundo o produtor, refletiu fielmente as noites frescas do período, sem grande amplitude térmica, garantindo frutosidade e maturidade plenas.
Minhas considerações:
Cor: Intensa opacidade e um vermelho vibrante como um letreiro eletrônico de Tokyo. É sério! Vibrante é a qualidade mais própria para o Altos; mesmo quando inclinado contra a luz permanece em cor densa, concentrado fica com um tom de veludo violáceo.
Olfato: Engraçado, transmite aromas jovens, explosivo de frutas vermelhas, mas no limite de sua maturidade, como um cheiro de pé de morangueiro repleto de frutas caídas ao chão num fim de colheita. Quando se diz cheiro de compotas talvez se refiram a este cheiro, suponho. Também um aroma de amêndoas, levemente tostado, ou de nozes quando são salteadas em panela ao fogo (quem nunca fez isso aliás, faça, as nozes ficam bem mais aromáticas e saborosas). Sim tem baunilha, mas não a ponto de atropelar os outros aromas, fica discreto em um canto.
Degustação: Intenso demais no começo, queima. Se for o primeiro vinho da noite vai pegar gente desprevenida; melhor servi-lo com paladar já embebido em vinho, após outro tinto mais suave. Feita a ressalva, acompanha ótima acidez, fim de boca persistente, taninos equilibrados com a acidez, de estrutura simples/média, o que o revela com grande potencial para harmonizações. Neste quesito, provavelmente um vinho bem domesticável e flexível, provável que sirva bem tanto com carne de aves quanto carnes vermelhas de caça.
3 taças, no limite para atingir 4,
nota 89